fevereiro 15, 2022

ROTA DA AMIZADE

by Rodrigo Dorval in Liderança

Há alguns anos, lendo um livro de Mark Finley, evangelista e escritor que admiro muito, encontrei uma declaração que me deixou muito intrigado, pois me parecia muito simples, óbvia e pouco profunda. Ela dizia: “Não ganhamos inimigos para Deus, apenas amigos”. Horas mais tarde, e depois de pensar nessa “declaração simples e pouco profunda”, concluí que simples e pouco profunda não era a declaração, mas a minha apreciação. Pessoalmente, eu gosto muito de evangelismo e sempre busco a melhor forma de cumprir a missão a fim de ver Cristo voltar; e, apesar de reconhecer a minha compreensão limitada da tarefa de evangelismo, convenci-me de que a declaração em questão nos dá uma chave importantíssima para o cumprimento da missão. É totalmente verdade: “Não ganhamos inimigos para Deus, apenas amigos”.

A impressão dessa declaração foi tão forte que começamos a desenvolver um método de evangelismo para o Ministério Jovem com base nesse conceito, o qual denominamos: ROTA DA AMIZADE. Antes de falar sobre o método, gostaria de mencionar algumas ideias sobre o conceito de “amizade”.

A palavra amizade deriva do latim “amare”, amar. Na verdade, é uma relação afetiva entre duas ou mais pessoas. É um dom maravilhoso que traz consigo não apenas bons momentos de companheirismo, mas também valores agregados, como aceitação, compreensão, pertença, solidariedade, apoio, confiança, consolo, perdão, reconciliação, alegria e várias bênçãos derivadas, com as quais poderíamos encher muitas páginas. Com tanto valor e benefícios, não é de se estranhar que a amizade não apenas é um dom apreciado e desejado, mas também uma necessidade do gênero humano.

Na relação etimológica existente entre as palavras amizade e amor, podemos dizer que o plano da salvação é a maior manifestação de amor e amizade de Deus ao homem e, precisamente através desse amor e amizade, é como Deus deseja que cheguemos ao coração das pessoas para compartilhar o evangelho.

Ellen White reafirma essa ideia em uma citação que você poderia repetir de memória comigo: “Unicamente o método de Cristo trará verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me.’ João 21:19” (CBV, p. 143).

Sim, o método de Cristo foi a amizade e, mais do que um método, foi uma atitude espontânea, sincera e progressiva, exercida do menos para o mais, como um processo, um caminho ou uma rota clara a ser seguida: desde a decisão de Se misturar com os homens até lhes dizer: “Segue-me” e convertê-los em Seus discípulos.

Provérbios 17:17 nos dá uma pista em relação à ROTA DA AMIZADE: “Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão”. Hoje, vivemos em tempos de angústia, condição muito acentuada que não necessita de explicação. Embora você e eu saibamos que em tempos assim o mais importante é edificar nossa vida sobre a Rocha, que é Cristo e Sua Verdade, infelizmente, algumas pessoas não entendem a transcendência e a importância disso em relação aos seus problemas, angústias e necessidades; e nós, sem entender, continuamos insistindo nisso.

De fato, hoje se fala de forma leviana da sua verdade, da minha verdade e da verdade deles; e, em um mundo onde coexistem sete milhões de pessoas, coexistem também sete milhões de verdades, porque a sua verdade, embora seja A VERDADE, acaba sendo uma a mais entre todas as existentes. Isso é ainda mais terrível, visto que até as maiores mentiras são consideradas como verdades. Em realidade, não se chama ninguém de mentiroso, mas dizemos que a pessoa faltou com a verdade. Ou seja, todas as mentiras não são mentiras na verdade, mas verdades incompletas.

Nesse relativismo, onde tudo é válido, não podemos nos aproximar das pessoas com verdades, embora o sejam, mas devemos nos aproximar delas sinceramente, oferecendo-lhes o que mais urgentemente necessitam: um amigo que os ame e que seja como um irmão em tempo de angústia. Hoje, devemos nos aproximar das pessoas para dar-lhes todos os benefícios e bênçãos da verdadeira amizade que flui de um coração cheio de Cristo. Devemos nos aproximar com todos os valores agregados da amizade mencionados a princípio: aceitação, compreensão, pertença, solidariedade, apoio, confiança, consolo, perdão, reconciliação, sorrisos, alegria, etc.

Sem dúvida, “não ganhamos inimigos para Deus, apenas amigos”, já que não precisamos ganhar o coração e a confiança de um amigo, porque esses valores estão incluídos na verdadeira amizade. Se isso se tornar realidade, então poderemos dizer como Jesus: “Segue-me”, e esse será o momento exato em que A VERDADE poderá ser aceita e entesourada, porque terá o valor verdadeiro que provém da autoridade daquele que ama verdadeiramente. Portanto, se você quiser cumprir a missão e fazer discípulos, proponho-lhe algo: Deixe, por um breve instante, a verdade e dedique-se a seguir a ROTA DA AMIZADE. Seja um bom amigo, alguém que oferece amor abundante, e seja um irmão em tempo de angústia.

Então, de forma concreta, como posso implementar a ROTA DA AMIZADE? É muito simples. Escolha um amigo não adventista, estreite a amizade da forma mais próxima e íntima, e comece a integrá-lo nas suas atividades diárias. Para isso, execute uma ação-chave: o convite. Convide-o para ir ao shopping, para ir à praia, para jogar futebol, para tomar um sorvete, para andar de bicicleta…  Convide, convide, convide. O foco de tudo isso é compartilhar e passar tempo com seu amigo, de forma sincera e espontânea, a fim de testemunhar não com palavras, mas com um estilo de vida cristão. Além disso, é importante acrescentar, pouco a pouco, alguns convites para atividades espirituais como recitais, pequenos grupos, culto jovem, retiros espirituais, acampamentos ou algum outro tipo de atividade especial da igreja. Também é importante considerar os convites para eventos do ministério jovem e do cronograma eclesiástico, visto que, no contexto da amizade, isso servirá para que o amigo não adventista comece a conhecer a igreja e o ambiente agradável que ela propicia. Por último, escolha um evento especial de evangelismo que seja o “convite máximo” de todos os convites a fim de que seu amigo possa ouvir o chamado de Deus e entregar a vida a Ele. No nosso caso, todos os jovens de nossa União levam seus amigos ao congresso de jovens, onde são convidados a aceitar a Cristo como Salvador. Como testemunho e para a glória de Deus, concluo dizendo que as decisões por Cristo, em nossos congressos de jovens, estão duplicando e, em alguns casos, até triplicando.

Hoje, com o objetivo de transformar esse método em um estilo de vida, fixamos algumas atividades como marcos no Ministério Jovem, onde convidar os amigos não adventistas é um requisito para assistir ao evento. Na verdade, cunhamos uma frase que se transformou em hashtag: #EUCONVIDO.

Por último, deixo os seguintes passos para implementar a ROTA DA AMIZADE:

  1. Registremos os nomes de três a cinco pessoas não adventistas e peçamos ao Senhor para sensibilizar seu coração.
  2. Aproximemo-nos delas com mais frequência e consolidemos os vínculos da amizade.
  3. Observemos quem se sente mais à vontade conosco e dediquemos mais tempo a essa pessoa.
  4. Concentremos nossas orações no amigo mais próximo, conhecendo seus problemas e oferecendo-lhe nossa ajuda concreta.
  5. Continuemos orando e conquistando sua confiança. Depois, convidemo-los para atividades de relacionamento, como acampamentos, caminhadas, Clube de Desbravadores, recreação, pequenos grupos, camporis, congressos e datas especiais.
  6. Continuemos orando por sua conversão e aprofundando essa linda amizade, integrando o amigo e, quem sabe, irmão no Ciclo do Discipulado, na Escola Sabatina, no Culto Jovem, etc. Então, anime-o a fazer o mesmo por outras pessoas.

“Perdemos muito, como povo, por falta de simpatia e sociabilidade uns com os outros” (SC, p. 178). “O exemplo de Cristo de ligar-Se aos interesses da humanidade deve ser seguido por todos […] Não devemos renunciar à comunhão social” (SC, p. 93).

Por: Pr. Juan Fernández

Ministério Jovem – UCh

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