Incomodo-me muito com comentários que desprezam, rejeitam e desvalorizam a geração atual de adolescentes e jovens de nossa igreja. Ouço alguns falarem que, em sua época, os jovens eram mais comprometidos com a missão, mas eles se esquecem de que nunca houve no passado um envolvimento tão grande da juventude com a missão como nos últimos anos.
Atualmente, temos mais de 205 mil jovens em toda a América do Sul participando do projeto chamado Missão Calebe. Na última década, testemunhamos o crescimento no número de jovens indo para as missões. Saímos de 16 jovens missionários voluntários em 2009 para mais de 890 no ano de 2018.
Como líderes, nós sabemos da necessidade de preservar a mensagem adventista, mas também precisamos contextualizar nossa linguagem e apresentações para atrair os jovens que ainda não se envolveram com a missão.
O pastor Allan Martin, que serve à Igreja Adventista de Arlington, no Texas, Estados Unidos, liderou uma pesquisa com seus jovens que ele chamou de Pesquisa Adventista Millennial. Ele trabalhou com jovens do ensino médio até a paternidade e observou quatro categorias de jovens. Observemos as estatísticas da pesquisa:
- 10% dos jovens são chamados de Pródigos: Jovens que cresceram em um ambiente cristão, mas perderam sua fé. Alguns podem imaginar que é muito pouco em relação a 100%, mas não podemos esquecer que, na Parábola da Ovelha Perdida, o pastor deixou as 99 ovelhas para buscar a única que tinha se perdido (Lucas 15:4).
- 40% são chamados de Nômades: São jovens que saíram da igreja, mas ainda se apresentam com adventistas. Interromperam o envolvimento e a participação nos cultos da igreja. Porém, eles acreditam que essa é a igreja verdadeira, acreditam nas doutrinas e profecias, mas não aceitam a formalidade.
- 20% deles são chamados de Exilados: Jovens que se sentem perdidos entre as culturas da igreja e da sociedade; confusos entre o conforto da tradição de seus pais e o chamado para estar no mundo, mas não ser do mundo. Devemos ficar atentos ao clamor dos jovens que, em diversas pesquisas ao longo dos tempos, têm se apresentado lutando com essa realidade.
- Finalmente, 30% dos jovens são chamados de os Mais Velhos: São jovens que cresceram em um ambiente cristão e permaneceram envolvidos e fiéis em sua igreja, até a transição para a idade adulta. Jovens que não apresentam testemunhos espetaculares e que, portanto, às vezes são deixados de lado em sua realidade.
Qual será então o passo para atrair nossos jovens aos princípios da Palavra de Deus e o compromisso com a missão? A pesquisa apresenta algumas propostas dos próprios jovens. Vamos apresentar as três mais relevantes e relacionar com algumas citações do Espírito de Profecia para ver se elas são coerentes:
- RELACIONAMENTO ENTRE GERAÇÕES
As novas gerações devem se unir às pessoas experientes, que têm entendimento da Bíblia, que por muito tempo têm sido praticantes da Palavra e confiam em Cristo. “Nunca deveis colocar a juventude sob a orientação de individuos espiritualmente indolentes, os quais não possuam altas, elevadas, santas aspirações, porque o mesmo espírito de indiferença, farisaísmo e formalidade, será visto tanto nos professores como nos alunos” (Conselhos sobre a Escola Sabatina, p.116.1).
Veja que os mais experientes têm uma grande responsabilidade para atender a esse pedido dos jovens.
- PERDÃO E ACEITAÇÃO
As novas gerações aceitam seus erros, querem ser perdoadas pelos mais velhos, desejam ser tratadas com respeito, esperam que seus limites emocionais e espirituais sejam respeitados, e precisam de paciência em seu processo de maturidade.
Veja o que o Espírito de Profecia cita em relação a esse ponto: “Os que esperam ter sucesso na educação dos jovens devem aceitá-los como são, não como deviam ser, nem como serão quando saírem de sob sua instrução” (Testemunhos para a Igreja, p. 34.1).
- CRIAR ESPAÇO PARA COMPARTILHAR EXPERIÊNCIAS
Veja o equilíbrio do Espírito de Profecia quando trata o relacionamento das gerações experientes com as novas gerações: “Há uma bênção no convívio dos mais idosos com os mais jovens. Esses podem iluminar o coração e a vida dos idosos. Aqueles cujos laços da vida se estão enfraquecendo necessitam o benefício do contato com a esperança e a vivacidade da juventude. E os jovens pode ser auxiliados pela sabedoria e a experiência dos idosos, sobretudo, eles precisam aprender a lição do abnegado ministério” (Beneficência Social, p. 238).
Gostaria de lembrar que uma das características das novas gerações é o protagonismo na missão, e, como líderes de jovens, nós podemos ajudar nesse processo.
Finalizo com uma interessante citação de Maier: “Talvez os jovens não se sentem tão atraídos pela igreja que tenta entretê-los, como se sentem atraídos pela igreja que os desafia a trabalhar pelos outros. Se sua igreja provê maneiras concretas para os jovens ministrarem às necessidades dos outros e efetivamente provocarem uma mudança social no mundo, eles acharão sua igreja muito atrativa. Os jovens estão à procura de uma igreja que apele ao seu latente idealismo, chamando-os para ser agentes de uma revolução de Deus e para ser parte de seu movimento para trazer cura e justiça a um mundo quebrantado” (Rudi Maier, Church and Society: Missiological Challenges for the Seventh-day Adventist Church, p. 2, Book 12, tradução livre).
Ronaldo Arco
Líder de Jovens da União Central Brasileira