fevereiro 15, 2022

Mentores das Novas Gerações

by Rodrigo Dorval in Liderança

Nasci num lar adventista. Na verdade, represento a sexta geração de adventistas da minha família. Por causa desse histórico e por ser líder da igreja, penso frequentemente no adventismo de hoje. Quando faço isso, inevitavelmente vem à minha memória as histórias que escutava de meus antepassados e as experiências que vivi na igreja como criança, adolescente e jovem. Nesse “filme” que passa na minha mente está a forte lembrança do impacto dos meus líderes – pastores, anciãos e membros adultos – no meu desenvolvimento.

A influência deles foi significativa e dificilmente se apagará. Como me esquecer de alguns que nos ajudaram, num domingo à tarde, na limpeza e pintura do salão de jovens? Ou daqueles que todos os sábados à noite brincaram com a gente jogando vôlei ou tênis de mesa? Como não reconhecer aqueles que ofereceram uma palavra amiga no momento certo e o abraço apertado que me fez sentir único e especial? Como não agradecer aos pastores e anciãos que caminharam com o clube de desbravadores, estavam sempre presentes nos acampamentos ou visitaram minha casa em momentos difíceis?

Preciso ser sincero também, dizendo que de todos os sermões que ouvi nessa fase, lembro apenas de um: daquele que um ancião me pediu que lhe ajudasse com a ilustração da mensagem. Por outro lado, lembro-me do apoio, das risadas e dos conselhos da liderança. Sentia que os líderes confiavam em nós e que sempre havia alguém para lembrar a comissão da igreja sobre nossa importância.

Por que compartilho essas impressões com você? Para destacar que, ainda que cada geração tenha suas características, os jovens de qualquer tempo parecem ter necesidades semelhantes. E uma igreja que cuida dos mais novos é uma comunidade que está engajada na salvação das novas gerações.

 

Pare Para Ouvir

Acredito que muito pode ser feito pelo discipulado das novas gerações com uma simples, mas difícil atitude: ouvir mais quem desejamos mentorear. De modo geral, os adultos pressupõem saber o que os jovens querem, pensam e qual é a visão deles sobre a vida e a igreja. Mas nos enganamos ao pensar desta maneira. Convido você que olha para o futuro da igreja e de sua juventude com legítima preocupação, que dedique mais tempo para ouvir as novas gerações e construir um diálogo saudável com os jovens.

Na sede sul-americana da igreja em Brasília (DF), há alguns meses fizemos isso. Convidamos jovens representantes de diferentes regiões do nosso subcontinente para conversar abertamente sobre assuntos como a relevância da igreja e a relação entre os jovens e a liderança. Compartilho abaixo algumas impressões que eles apresentaram:

1) Os jovens consideram a igreja relevante na medida em que ela cuida deles. Isso significa interesse genuíno pelos jovens e a formação de um ambiente de amizade. Na opinião deles, evangelização e batismo serão consequências desse processo relevante.

2) Eles enxergam a igreja como uma instituição atualizada no uso da tecnologia, mas entendem que isso é secundário. O que o jovem mais almeja é ser ouvido, ter espaço para diálogo e fazer parte de uma comunidade que funcione como uma rede de discipulado.

3) Quanto à relação com a liderança, eles consideram que a influência de um pastor ou ancião é proporcional ao nível de proximidade e amizade com seus liderados. A liderança precisa ser digna da confiança deles.

4) Eles acreditam também que a igreja tende a enfatizar o uso do método de Cristo na evangelização – que implica misturar-se, suprir necessidades e ganhar a confiança – mas se esquece disso ao lidar com os membros.

5) Os jovens esperam que os membros adultos não limitem a criatividade nem subestimem a capacidade dos mais novos; que eles sejam autênticos e coerentes entre o discurso e a prática; e que considerem os jovens como aliados no processo de fazer a igreja mais acolhedora, unida e relevante para a comunidade.

 

Tarefa Individual

Quando analiso esse feedback, penso no quão saudável pode ser nós criarmos uma cultura de diálogo com a juventude. Isso faz bem para eles, nós e toda a igreja. E, a medida que esse diálogo vai amadurecendo, é preciso transformar reflexões em ações dirigidas em decisões que podem ser cruciais em favor de gerações que estão esperando seu espaço e que têm muito para oferecer. Estamos diante de um desafio e oportunidade que pode gerar crescimento para todos!

Os altos índices de apostasia entre os jovens são uma realidade no contexto adventista ao redor do mundo. Uma pesquisa global realizada pela igreja apontou que a principal causa de abandono da fé adventista é a falta de amigos que apoiem a caminhada espiritual (41%). E as duas razões seguintes mais indicadas para a apostasia também têm que ver com relacionamentos. Para mim, isso é um indicador suficiente que mostra qual deve ser nossa ênfase no trabalho com os adolescentes e jovens.

Para tanto, o discipulado das novas gerações não pode ser encarado como uma tarefa meramente institucional. É um desafio coletivo da igreja, sem dúvida, mas vai além disso: é responsabilidade pessoal. O discipulado é artesanal e pessoal. Não pode ser feito por atacado, decreto ou documento. Envolve poucas pessoas. Tenho experimentado isso no discipulado de um jovem em particular. Fiz um compromisso com Deus de cuidar dele, amá-lo e compartilhar minhas experiências espirituais com ele. Desafio você a fazer o mesmo em seu raio de influência.

Entendo que a maior marca de um discípulo de Cristo é o amor (Jo 13:35). E quando este dom de Deus se manifesta na vida de alguém, ele transborda para outros. É por isso que o discipulado com as novas gerações será efetivo quando o amor pelas crianças, adolescentes e jovens for maior que nossos próprios interesses. Gostaria muito que um jovem no futuro pudesse olhar para trás e recordar da influência positiva que tive sobre ele. E você?

Pr. Carlos Campitelli

Diretor do Ministério Jovem – DSA

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